04 janeiro 2007

Começo arrasador

Segue abaixo, a transcrição de um texto meu publicado nesse site aqui.

Anarco-turismo: o futuro da humanidade idealizada
Anarquismo e Turismo. Duas palavras que parecem contra partes de um mesmo sistema, porém, quando analisadas friamente, são complementações uma da outra. Afinal, ambas pregam a união das pessoas em prol de um objetivo específico, sejam melhores condições de vida ou uma viagem em grupo.
Ambos movimentos surgiram no século XIX. Ambas começaram como uma atividade incerta, sem saber exatamente para onde levariam. Ambas tiveram o seu boom.
Apenas o Turismo sobrevive hoje em dia. Por que será? Muitas teorias podem ser levantadas sobre o “fim” do anarquismo, ou pelo menos seu término da maneira como o conhecemos ou imaginamos ser de sua natureza, com revoltas e mortes. Porém, nem sempre foi assim.
Alguns dos mais célebres escritores anárquicos, entre eles o “pai” do anarquismo francês, Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), sempre destacaram que o povo deveria tomar o poder através do diálogo e não da guerra, pois a mesma somente levaria a um caos total, onde um conflito levaria a uma revolta e assim sucessivamente.
Proudhon acreditava piamente que conversando, o povo chegaria a um entendimento onde, num futuro não muito distante, as formas ainda vigentes de governo seriam totalmente abolidas, passando o homem a ser realmente livre das agruras que o proletariado lhe impõe.
Não foi assim. Os sistemas opressores estatais firmaram-se cada vez mais como uma forma de subjugar o povo, ou as classes que não detém o poder. Entretanto, Michael Bakunin (1814 - 1876) escreveu num de seus famosos panfletos revolucionários, publicados na França e na Itália, que o poder sempre favoreceria quem estivesse no comando e seus aliados, e, sendo assim, caso o povo chegasse ao poder, este deixaria de ser maioria dominada e passaria a ser a minoria dominante, apenas invertendo os papéis entre ricos e pobres. Mas voltando a Proudhon, este alegava que quando o povo pudesse se livrar dos grilhões da opressão, passando a trabalhar sob jornadas de trabalho mais curtas e tendo mais tempo livre, passaria a interessar-se mais por artes, idiomas e viagens.
E como sempre pregou que o homem livre poderia associar-se com quem bem desejasse, seja para trabalho ou lazer, cooperativas seriam criadas e difundidas, pois segundo sua visão, esta seria a maneira mais justa para o homem viver. Afinal de contas, homens cooperados trabalham da mesma maneira, pelas mesmas horas e têm o mesmo ganho, não prejudicando ninguém, portanto. O famoso escritor italiano Mario Beni já disse, na famosa obra “O Ócio Criativo”, que a tendência da humanidade atual, levando-se em consideração a carga horária, os baixos salários e as poucas horas de lazer, é de reduzir sua jornada laboral para quatro horas diárias, passando o resto do tempo dedicando-se a estudos e viagens.
Podemos notar aí uma certa influência anarquista, porém muito discreta, já que este autor não se refere a nenhum dos pensadores do século XIX, tampouco faz menção aos mesmos. Porém, quem iria dizer que o rumo da humanidade passa por redução de jornada de trabalho, uma vez que o capitalismo estabelece que quanto mais se trabalha, mais se ganha? Beni ainda chega ao extremo de dizer que num futuro próximo, a população mundial viverá na base dos 80-20: 80% da população vivendo no ócio criativo, enquanto apenas 20% dedicada ao trabalho, ainda que em jornadas curtas. Mas e onde entra o Turismo nisso tudo? O Turismo é parte fundamental do desenvolvimento do ser humano neste futuro que se anuncia desde o século XIX, pois com este tempo livre que o homem passaria a ter, ele procuraria novos destinos e novas culturas, tudo como parte do seu crescimento intelectual.
Este novo homo sapiens que irá nascer, se as profecias de Proudhon e Bakunin derem certo, necessitará de profissionais de Turismo capazes de atender seus desejos. Mas como assim, profissionais de Turismo? Exatamente assim, pois o que o Turismo diferencia-se das demais funções é justamente este intenso contato humano. Máquinas poderão, um dia, operar, construir casas, carros, computadores, trabalhar em supermercados, açougues, cortar grama. Porém, nunca poderão emitir emoções humanas. E os 20% da população que permanecerem trabalhando, estarão também no campo do Turismo; serão os guias, os agenciadores, os planejadores, não mais os pilotos, comissários ou recepcionistas de hotel.
Estas funções, assim como muitas outras, estão fadadas a acabarem, porém algumas outras tornar-se-ão importantíssimas para a cadeia produtiva do Turismo. Segundo os anarquistas do século XIX, as cooperativas são o futuro do emprego no mundo, pois são a forma mais justa de se obter trabalho, lucro e renda de maneiras iguais entre todos os envolvidos na operação. Trabalhando de forma cooperada, os futuros profissionais do Turismo terão a chance de desenvolver um trabalho mais voltado ao cliente, mais ou menos como o que acontece hoje nas grandes cadeias hoteleiras do mundo, porém, sem a diferenciação do salário. Os “funcionários” não terão porque ficar desestimulados, podendo sempre oferecer seu melhor durante a jornada de trabalho. Este mundo encantado que é o “anarco-turismo” poderá acontecer imediatamente?
Não. Poderia o anarquismo tomar conta do atual capitalismo como a forma regente de governo? Não. Ambas propostas não poderiam acontecer no momento em que vivemos, pois ainda existem muitos problemas a serem resolvidos em todas as esferas da sociedade, sejam de infra-estrutura, educação, saúde ou segurança, para citarmos apenas alguns. Todas estas teorias e hipóteses levantadas até então poderão tornar-se vida corrente daqui a cem anos ou mais.
Parece muito tempo, cem anos? Parece, mas se levarmos em conta que até hoje na História tivemos apenas um país totalmente anarquista (França, em meados de 1860), e que este sistema não durou mais de seis meses, entenderemos o porque disso. Para que o anarquismo venha a ser a forma corrente de governo, e os profissionais do Turismo possam beneficiar-se dessa situação, será necessário um grande e urgente plano de educação mundial, aliado a planos de segurança, saúde e desenvolvimento, pois ainda seria impossível para países como Timor Leste ou Burundi desenvolverem uma cultura anarquista quando boa parte de sua população morre em decorrência de doenças ou fome. Por isso, se não houver uma mudança de atitude daqueles que detém o poder atualmente, dificilmente haverá a possibilidade de mudança de sistema, passando do capitalismo para o anarquismo, onde todas as áreas da vida em sociedade seriam beneficiadas, inclusive o Turismo.

1 Anarquistas escreveram

Anonymous Anônimo said...

Adorei a parte do anarquismo, mas a junção do turismo não me convence...
Talvez o prestador de serviço...Tenha mais a ver com a idéia.

outubro 10, 2007  

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